Dia 3

Íamos começar a última etapa da N2, estávamos um pouco mais à frente que o meio do percurso mas devido aos problemas do dia anterior e à hora tardia que chegámos a Vila de Rei, já não fomos ao Picoto da Melriça, mais conhecido como o centro geodésico de Portugal. Despedimos-nos do Ti Manuel, carregámos as motas, verificámos tudo e lá fomos. Uns kms para trás e rapidamente chegámos ao Picoto da Melriça através da variante da N2, uma estrada que fizeram paralela à antiga N2 mas com melhores condições, antigamente para se ir do Sardoal a Vila de Rei demorava-se 30 minutos agora com a variante da N2 demora-se pouco mais de 10 minutos. 

Com uma altitude de 600 m, este local permite ao seu visitante uma visão de 360º sobre um horizonte vastíssimo, em que se destaca a Serra da Lousã e, com tempo limpo, a Serra da Estrela, esta quase a 100 km de distância. Neste local existe o Museu da Geodesia. Sala de exposição temática, pequeno auditório, loja de recordações e bar, enriquecem este espaço num local que é uma das referências do concelho. Aqui situa-se o vértice geodésico de primeira ordem, conhecido por Picoto da Melriça. Contudo, o ponto central da projecção utilizada na cartografia portuguesa fica perto deste local: a cerca de 200 metros para oeste e 2900 metros para sul. O marco geodésico é uma pirâmide de alvenaria com nove metros de altura, começada a construir em 1802 e situada a uma altitude de 587 metros. Lá do alto obtém-se excelente vista de 360º sobre toda a região e é possível distinguir as terras da região envolvente.  Neste local situa-se também o Museu da Geodesia, inaugurado em 2002, que apresenta uma sala de exposições, um pequeno auditório e uma loja de recordações.

A Serra da Melriça, conhecida localmente como "Picoto da Melriça", é uma serra portuguesa situada a cerca de dois quilómetros a nordeste da povoação de Vila de Rei, sede do concelho com o mesmo nome, do Distrito de Castelo Branco.Com uma área pequena de ocupação, tem a altura máxima de 592 metros. A importância desta serra resulta do facto de nela estar localizado o Centro Geodésico de Portugal Continental. Nela encontra-se o marco geodésico padrão "TF4" a partir do qual se deu início às observações angulares dos restantes vértices geodésicos de todo o Portugal Continental.

Quando chegámos já lá estava um grupo que também andava a percorrer a N2 e passaram por nós no dia anterior quando estávamos parados a almoçar, era um grupo significativamente grande e com grande espírito motard, trocámos algumas impressões com alguns elementos, algumas fotografias e claro tivemos que fazer uma fotografia de grupo no centro de Portugal.

Principalmente a mulheres deste grupo adoraram a nossas t´shirts e fizeram questão de tirar também uma fotografia com alguns dos nossos "modelos" 

Consegue-se ter uma vista deslumbrante num ângulo de 360º  e distinguir-se a norte e a este mais serras e para sul e oeste mais planícies ou serras de menor dimensão.

virados a norte

virados a sul

Despedimos-nos com um até já do outro grupo e seguimos o nosso rumo, descemos a serra da Melriça e voltámos a entrar na N2, passámos ao lado de Vila de Rei e na última rotunda virámos à esquerda em direção a Vale de Grou e continuarmos pela trajeto primitivo da N2. Antes de chegarmos ao Milreu encontrámos o km do meio da N2, o km 369 e claro, tivemos que parar e tirar a fotografia da praxe.

No meio de uma zona fustigada pelos incêndios do ano passado lá estava ele meio torto, meio queimado e quase sem tinta, só o relevo do números dava para identificar o km 369.

Seguindo por uma zona em que a N2 é relativamente estreita, bastantes curvas, algumas bem fechadas e tranquilamente chegamos ao Penedo Furado. As características do maciço rochoso fazem da Praia Fluvial do Penedo Furado, um autêntico paraíso, oferecendo um conjunto de pequenas quedas de água, visíveis a escassos metros, que podem ser apreciadas ao percorrer um estreito caminho talhado na rocha. Esta é a estância balnear mais procurada do concelho de Vila de Rei, não só pela sua água límpida e cristalina que lentamente vai correndo pelo leito, através de uma passagem natural na rocha, mas também pelas infra-estruturas.

Na zona mais elevada, existe um rochedo gigantesco com uma enorme abertura de feitio afunilado, que dá nome à praia, onde foi criado o Miradouro do Penedo Furado, de onde é possível admirar a magnífica paisagem de serras e montes revestidos de pinhais, a ribeira do Codes, a albufeira da Barragem do Castelo do Bode e algumas casas das povoações envolventes.

Do lado direito do miradouro, existe um nicho com a imagem de Nossa Senhora dos Caminhos, após a qual existe um trilho lateral que permite passar à zona mais baixa do penedo, e descer até à praia fluvial, passando pela denominada "Bicha Pintada". A "Bicha Pintada", localizada na margem direita da Ribeira do Codes, abaixo do miradouro do Penedo Furado, é um fóssil que, segundo alguns estudiosos, se crê que tenha mais de 480 milhões de anos, inserido no topo de uma camada de quartzito cinzento-escuro, com 30 cm de espessura.

Próximo do Miradouro do Penedo Furado, existe o Miradouro das Fragas do Rabadão, onde existe uma via-sacra e um pequeno santuário, cujas estatuetas foram oferecidas por populares, de onde se pode apreciar a paisagem até à albufeira de Castelo de Bode e onde se inicia um trilho confluente com o trilho do miradouro anterior, com ligação à "Bicha Pintada".

O Penedo Furado é um dos locais mais místicos da região. Mitos, contos e lendas que o povo foi passando de geração em geração, fazem também parte da História do Penedo Furado e deixam a imaginação popular aliar-se a toda a beleza do espaço envolvente. Sou um pouco suspeito para falar do Penedo Furado pois a minha família é desta zona e em miúdo grandes banhos tomei no Penedo Furado mais conhecido pelas gentes da terra como: "vamos tomar banho ao Codes"

Estava na hora de seguirmos viagem e deixarmos esta enorme beleza natural para trás.

Faltava a minha ehehehehehe

Mais abaixo atravessamos a ponte do Codes e estávamos no distrito de Santarém, logo a seguir Brescovo, aqui as povoações são pequenas com meia dúzia de casas, muitas das quais abandonadas pois os donos foram para as grandes cidades e por lá ficaram e agora os herdeiros não querem saber delas para nada. E chegamos ao km 380 e à terra onde passa´mos a noite, São Domingos. Terra que me diz muito e que adoro lá estar, à saída de São Domingos uma serração agora cheia de madeira queimada retirada dos imensos pinhais que existiam na zona, agora reduzidos a cinzas, e continuando numa zona da N2 bastante estreita e sinuosa chegamos a Andreus e logo a seguir à sede de concelho, Sardoal. À sua saída é o local onde a N2 se junta com a variante N2 e daí seguimos até Abrantes, onde anda perdido o km 400 e atravessamos o Tejo por uma extensa ponte do séc. XIX e, já na margem sul, chegamos ao Rossio ao Sul do Tejo e atravessamos uma zona de grandes tradições industriais, hoje praticamente tudo deixado ao abandono e algumas em ruínas, como é exemplo o edifício junto da estação de comboios.  Começamos a entrar nas grandes retas em direção a Ponde de Sôr, o Alto Alentejo aproxima-se, os pinheiros e eucaliptos começam a dar lugar ao sobreiros. A bacia da barragem de Montargil acompanha-nos até atravessarmos o paredão que sustenta as águas e seguimos até Mora. 

Logo a seguir a Mora temos a aldeia de Brotas e o seu Santuário de Nossa Senhora de Brotas, intimamente ligado às nascentes de água locais e também um dos santuários mais importantes do pais.

O troço de estrada que ligava Mora - Brotas - Montemor o Novo estava classificada em 1878 como estrada real de 2ª classe. 

O calor e a fome começava a dar sinais e seguimos rapidamente até Montemor o Novo, onde umas bifanas bem saborosas esperavam por nós. Enquanto almoçávamos ainda tivemos a visita de um amigo Reguengos que vinha de Setúbal com a sua linda Harley Davidson. Já com as barriguitas satisfeitas era hora de nos fazermos à estrada, as grandes retas continuavam, o transito era praticamente nulo, por vezes dava a sensação que a N2 estava reservada para nós. Reservada e cheia de surpresas e a demonstrar a razão de sermos um dos melhores povos do mundo, embora por vezes não queiramos ser bons, mas nós somos. Ao chegar a Santiago de Escoural, reparo que o Raul não tinha médios na mota, fiz-lhe sinal e paramos para ver qual a razão, chega-se ao pé de nós um senhor que estava com um grupo de amigos sentados à beira da estrada e vai à parte de trás da sua bicicleta e tira de dentro de uma cesta de verga uma garrafa de ginja feita por ele em 2004 e para nos servir não se esqueceu dos pequenos copos de plástico. Maravilhoso.

Ainda tínhamos cerca de 200 kms até chegar ao marco final por isso era tempo de voltarmos à estrada, o Paulo a partir daqui começou a pedir marcos quilométricos com números engraçados e nós fomos na conversa dele, o próximo era o km 555 e lá parámos para mais uma fotografia.

Alentejo a dentro lá continuámos, ao atravessar a aldeia do Torrão mais uma surpresa, havia pessoas com saquinhos com bocados de leitão a dar a quem passava. Esta nossa gente é maravilhosa. Não tardou estávamos em Ferreira do Alentejo e à medida que avançamos para sul, cada vez entramos mais nesta vasta extensão de solos pobres e pouco povoados que, sensivelmente após o km 600, se estende pelos concelhos de Aljustrel, Castro Verde, Ourique, e ainda Almodôver, onde o relevo começa a não ser tão uniforme até chegarmos às serras algarvias. Por aqui a paisagem é um campo de ondulações suaves, quase sem árvores, com casas de tempos a tempos, brancas rasteiras e onde o sol do fim do dia pinta de ouro as searas e o restolho dos terrenos. É o Alentejo em todo o seu esplendor a começar a tocar as serras algarvias, nós começávamos a preparar-nos para a última etapa, atravessar a tão famosa serra com curvas até nos fartar.  

Ao km 619 passamos por Aljustrel, terra muito conhecida pelas suas minas que em tempos foi fonte de rendimento para as gentes desta zona. As tão famosas curvas já tomavam conta do nosso trajeto e o Paulo que mais um marco quilométrico, exatamente o km 666 e lá fomos nós em busca de mais um marco, após uma curva lá estava ele entre a vegetação quase seca.

A partir daqui entramos na serra do Caldeirão, é um troço de subidas e descidas, muitas curvas e contra-curvas sucessivas. Desde a saída de Almodôvor até São Brás de Alportel, foi o primeiro e único troço de estrada a obter a designação de "Estrada Património", um caso para os nosso governantes pensarem. De São Brás até Faro, descemos pelo barrocal até ao centro da cidade de Faro. Antes de entrarmos no centro de Faro encontramos para muitos o fim da N2, local exato onde está o último marco quilométrico, o km 738, mas alguns entendidos dizem que a N2 acaba junto à Doca de Recreio, nós como não queremos fazer desfeita a ninguém fizemos dois finais, o primeiro junto ao marco que assinala o km 738.

Depois de fazermos o primeiro final seguimos para o interior da cidade e chegámos ao km 739 junto à Doca de Recreio, junto ao cordão dunar que protege a Ria Formosa e onde , deixámos para trás as montanhas e as ondas do mar esperam por nós. 

Foram dois dias de N2, 738 kms separam duas cidades tão importantes no nosso pais, é incrível como neste "pequeno" trajeto passamos por zonas completamente diferentes, realmente Portugal é GRANDE. 

Depois refrescámos a garganta com uma fresquinha e fomos jantar perto de Mértola mais propriamente à aldeia de Corvos um famoso cozido de grão que se faz por lá. Nada melhor para acabar um dia que um cozido de grão ahahahaha.

Espero que tenham gostado de viajar connosco, nós gostámos foi pena o tempo ser curto para tudo ser visto como merecia ser visto, talvez para uma próxima. Há locais que quero voltar para ver ao pormenor. Até à próxima viagem e,


Boas curvas se Deus quiser, by Padre Zé Fernando


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