Dia 2

 E chegou o dia do km 0, o marco quilométrico ficava a cerca de 500 metros do hotel onde dormimos. A manhã tinha acordado com a ameaça de chuva, o céu apresentava-se carregado, motas preparadas e era hora de arrancar até à rotunda onde se encontra o marco que indica o km 0. 

Percorremos os quinhentos metros iniciais e parei um pouco antes da rotunda para nos juntarmos todos e tirarmos a fotografia da praxe, chega-se ao pé de mim um policia e pergunta se ia demorar muito, eu lá lhe expliquei a razão de estar ali parado e muito simpático disse: "pare ali no meio da rotunda que não há problema, se é só para tirarem uma fotografia". E assim fiz mota para cima da rotunda bem ao lado do marco quilométrico e lá foram chegando os restantes membros da equipa. Não podemos demorar muito pois já estavam dois espanhóis em fila de espera para fazerem o mesmo que nós, cruzámos-nos várias vezes com eles ao logo da N2. 

A primeira paragem seria num posto de abastecimento para atestarmos as meninas e o Paulo comprar óleo para se colocar a nível na mota dele. E assim fizemos ainda na linda cidade de Chaves. 

Lá começámos a nossa aventura, e rapidamente chegámos a Vidago, primeira localidade onde as águas termais reinam. Em Vidago tivemos que parar e ir visitar os jardins do famoso Vidago Palace Hotel. O Vidago Palace Hotel foi projetado pelo Rei D. Carlos I que desejava ver construída uma estância terapêutica de luxo com projeção internacional. As águas da Vila de Vidago já na altura eram consideradas de interesse nacional ! O Vidago Palace Hotel foi inaugurado a 6 de Outubro de 1910, ano em que é instaurada a Primeira República Portuguesa. Em 1936, o hotel passa a dispor de um percurso de golfe de 9 buracos, desenhado pelo célebre arquiteto Philip Mackenzie Ross. A combinação de um palácio com tratamentos termais e um campo de golfe de luxo, acabaria por colocar o Vidago Palace Hotel entre as estâncias europeias de maior prestígio no período da 2ª Guerra Mundial. Nos anos 50 e 60, a fama do hotel intensifica-se devido às famosas festas organizadas. O hotel encerra em 2006 e reabre em 2010, cem anos após a sua inauguração. Este hotel histórico adquire novo brilho e volta a desempenhar um papel importante na hotelaria nacional, com critérios de conforto e de luxo do século XXI

Uma volta para conhecer ,ais um pouco de Vidago e siga que Pedras salgadas é já ali. Em Pedras Salgadas nasce a famosa Água das Pedras, uma água que nasce já gaseificada. 

Seguindo a N2 e a seguir a Pedras Salgadas vem Vila pouca de Aguiar, os terrenos começam a ser cada vez mais montanhosos e a N2 começa a dar-nos as primeiras séries de curvas tão apreciadas por nós motard´s. Depois de Vila Pouca de Aguiar vamos até Vila Real, o verde predomina por estas serras decoradas com penedos e revestidas com carvalhos. O rio Corgo acompanha-nos, a nossa esquerda e segue para sul como nós. Mais à frente surge à nossa frente as primeiras depressões do vale do Douro e, para além dele, as serras beirãs , onde se destaca a Serra de Montemuro. Começam aparecer as primeiras vinhas do Douro Vinhateiro. 

Ainda conseguimos observar uma vinha a ser feita numa destas encostas e apanhar umas cerejas.

Um pouco mais à frente estava uma casa de Cantoneiros praticamente em ruínas, em tempos estas casas foram muito importantes para abrigar os cantoneiros das estradas nacionais.

Ao chegarmos a Vila Real tínhamos duas opções, ou seguíamos o traçado primitivo pelo centro da cidade ou contornaríamos a cidade por uma estrada alternativa e fugiríamos à confusão da cidade, como de confusões citadinas não gostamos muito fomos pela alternativa e não tardou já estaríamos novamente na N2 e com Vila Real para trás. E lá continuamos a nossa aventura, a estrada nesta zona é algo sinuosa, em descidas e subidas mas sempre dominada pela presença do belo Rio Douro ao fundo. É um trajecto de excelência da Região Demarcada do Douro e pelo prestigio conferido pela classificação Alto Douro VInhateiro - Património Mundial. Descemos as encostas a norte do rio até à sua margem direita mas sempre com a grande serra do Marão a Oeste, um pouco antes de chegar à Régua aproveitamos para parar e beber um café, já era quase meio dia e nós com tanta curva e tamanha beleza da região nem dávamos pelos kms e pelo tempo passar. Atravessámos o rio Douro pela Ponte da Régua e subimos as encostas da margem sul atingindo o km 100 quase à entrada de Lamego. Não deu para parar neste marco devido à sua localização onde poderíamos por em risco a nossa integridade física como arranjar problemas a quem circulasse na estrada. À chegada a Lamego o Paulo faz me sinal que algo não estava bem com a mota dele, mais uma aventura de Paulo e a sua mota amestrada. Parámos no centro de Lamego onde a cidade esperava pelos participantes do "Lés a Lés" que se estava a realizar naquele fim de semana. Não notei nada de anormal da mota do Paulo por isso, siga ... Do local onde estávamos conseguimos ver a magnífica escadaria da Senhora dos Remédios, por falha minha não se tirou nenhuma fotografia a tão lindo monumento. 

Saímos de Lamego e continuámos pela N2 em direcção a sul. O trajecto continuava a subir desde que atravessámos o Rio Douro na Régua, será sempre a subir até atingirmos o km mais alto da N2, o km 128, este quilometro está a 987 metros de altitude, até Faro nunca mais subiremos tão alto. 

Aproveitámos um parque de merendas que ali estava e fomos comer qualquer coisa pois já era hora de almoço.

A partir daqui é sempre a descer até ao Rio Paiva e chegamos a Castro Daire. Cruzamos o vale do Vouga e continuamos a descer suavemente até Viseu atravessando a cidade e passando pelo famoso Rossio de Viseu com o seu lindo jardim que se encontra à nossa direita e seguimos em direcção à saída. À saída de Viseu torna-se algo confuso encontrar novamente a N2, tal é o número de ruas e estradas novas as quais fizeram desaparecer pequenos troços da nossa estrada. Lá conseguimos encontrar o nosso rumo em direcção a Vila Chã de Sá e aí começa a travessia da região do Dão, com passagem pelas cidades de Tondela, e Santa Comba Dão até chegarmos à albufeira da Barragem da Aguieira. O vale do Dão acompanhar-nos-á até Santa Comba Dão pelo nosso lado esquerdo e a serra do Caramulo pelo nosso lado direito. Passamos pelo meio de Santa Comba atravessamos o rio Dão e chegamos ao Vimieiro, do lado direito da N2 encontramos a residência particular que foi de Salazar. Entramos no troço mais alterado devido à construção da Barragem da Aguieira e da IP3. Nesta zona a N2 passava por uma aldeia chamada Foz do Dão e também devido à construção da barragem ficou submersa, também com ela ficou a primeira ponte de Salazar, mandada construir por Salazar. 

Foi inaugurada a 17 de Outubro de 1935 e a 12 de maio de 1970 via o seu afogamento deliberado pelo mesmo regime que a mandou construir. Marcelo Caetano aprovava a construção da Barragem da Aguieira e o afogamento da ponte e da aldeia da Foz do Dão. A ponte não resistiu tanto tempo como o regime que a construiu e desapareceria tranquilamente nas águas da democracia no ano de 1981. Só uma curiosidade, naquela altura a ponte apresentava o maior arco em cimento armado construído em Portugal (160 metros de vão)

Seguindo pela N2 sempre ao longo das margens do rio Mondego desde a Barragem da Aguieira, íamos mudando de margem constantemente até Penacova. Um pouco antes de Penacova existe uma formação rochosa chamada de Livraria do Mondego.  Monumento natural que marca a paisagem, a Livraria do Mondego é um monumento que o tempo esculpiu ao longo de mais de 400 milhões de anos. Depois de ter recebido o Alva, seu afluente da margem esquerda, o Mondego estrangula-se ao atravessar o contraforte de Entre Penedos e surgem as altas assentadas de quartzíticos dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse, o que de resto deu origem à designação popular de Livraria do Mondego. Constituída por quartzíticos do Ordovícico, a Livraria do Mondego foi, por Galopim de Carvalho, classificada como um Geomonumento ao Nível do Afloramento, constituindo-se, pelas características geológicas que encerra e pela graciosidade escultórica que o tempo lhe incutiu, como um dos mais singulares monumentos naturais de Portugal.

Depois de Penacova entramos em mais uma etapa de curvas sem fim, cruzamos a também famosa estrada da beira (N17), descemos ao vale do Ceira e começamos a subir as encostas da serra da Lousã até atingirmos o alto e começarmos a descer para o vale do Zêzere. A este vê-se a serra do Açor e atravessamos o território das aldeias do xisto, estamos num troço bastante sinuoso com muita vegetação e encostas com declives bem acentuados. Atravessamos Góis, terra famosa pela sua concentração motard e aproveitamos para beber uma fresquinha numa taberna bem tradicional da vila. As curvas da serra da Lousa continuam connosco e não lhes dizemos que não, aproveitamos cada curva mas sempre com os cuidados devidos. Começamos a entrar na zona que o o ano passado foi bastante fustigada pelos incêndios, certas zonas de alcatrão tinham as marcas do fogo que por ali andou, o verde deixou-nos e agora predominava o cinzento e aqui ou ali uma ponta de verde de alguma planta que teimava em crescer em terra queimada. Pedrogão Grande aproximava-se, tínhamos deixado para trás kms maravilhosos de curvas, viro à esquerda para entrar em Pedrogão e ao chegar à primeira rotunda não vejo ninguém atrás de mim. - Ups onde ficaram ? Esperem e ninguém aparecia, voltei para trás e lá estavam eles um pouco mais à frente do cruzamento e a mota amestrada do Paulo decidiu enfiar-se num buraco que estava na estrada e entortar a jante, o ar do pneu, foi-se. E agora como vamos endireitar isto para receber ar ? Um homem que passou indicou-nos que mais abaixo havia uma oficina de motas mas tínhamos que nos despachar porque fechava às 19. Faltavam 5 minutos, e lá chegámos à MotoCabril.

 O responsável viu a jante e não gostou do que viu mas disse que ia tentar recuperar a jante de maneira a seguirmos viagem. O mecânico já estava de saída também e voltou para trás para nos ajudar. Uma hora depois, sensivelmente, a mota estava cá fora e nós poderíamos seguir viagem. Eu tinha combinado com o meu sogro que chegaríamos por volta das 8 da noite e andar bem de Pedrogão a São Domingos - Sardoal ainda são 50 minutos. Agradecemos atenção da MotoCabril e seguimos viagem N2 abaixo mas a um ritmo bem acelerado, não tardou estávamos atravessar a Sertã e a seguir vinham mais umas curvas bem rápidas até Vila de Rei, deixámos a visita ao centro Geodésico para o dia seguinte e seguimos directamente para casa, pois o lume já estava aceso e a carne a grelhar. 

Tivemos um jantar bem animado, com carninha da boa e o vinho feito por nós acompanhar o belo jantar. Para a sossega ainda houve uns meninos que quiseram e jogar às cartas e claro todos sabiam jogar muito e ninguém sabia jogar nada, ahahahaha. 

O aluno já dizia que o professor não sabia jogar. devia ser das horas tardias e das curvas que apanharam ao longo do dia. Mais uma vez os nossos agradecimentos à MotoCabril por ter resolvido o problema da jante, estava a ver que tinha que levar com o Paulo novamente à pendura como na Croácia. Amanhã Faro aí vamos nós...

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